8ª SEMANA UNIVILLE DE CIÊNCIA, SOCIEDADE E TECNOLOGIA

De 19/10/2021 à 21/10/2021

Anatomia da madeira de uma embarcação tradicional da costa baiana

Palavras-chave: patrimônio naval, anatomia da madeira, patrimônio florestal

As plantas estão presentes no cotidiano das sociedades humanas e desde os tempos mais recuados contribuíram com o seu desenvolvimento fortemente ligado à apropriação de recursos florestais. A madeira é um dos principais recursos extraídos da natureza e considerada como a principal matéria-prima usada na produção de diversos objetos, incluindo as embarcações navais tradicionais. Dentre essas, as canoas foram um dos primeiros tipos de embarcações a serem utilizados pelos homens, em função da sua adaptabilidade e facilidade construtiva, e possuem grande importância pois servem como meio de transporte de pessoas, mercadorias e produtos, além de auxiliarem na pesca, em comunidades litorâneas. Apesar disso, com o passar do tempo o declínio da pesca artesanal e a substituição de embarcações de madeira por sintéticos e motorizados poderão causar uma perda inestimável dos conhecimentos, técnicas e significados culturais. Assim, estudar e registrar a cultura tradicional e determinar a madeira usada historicamente na produção das embarcações é uma forma de zelar o bem cultural. O objetivo desse trabalho foi identificar taxonomicamente a espécie de madeira utilizada na confecção de uma canoa exposta no Museu Nacional do Mar, São Francisco do Sul – SC. Para isso, foi coletada da embarcação uma amostra de madeira que recebeu preparação histológica para posterior descrição anatômica. A canoa possui 904 cm de comprimento, boca de 80 cm, pontal de 36 cm e calado de 18 cm. Foi caracterizada como embarcação monóxila (único tronco), proa lançada, bico robusto, poupa reta, borda plana, fundo chato, dois bancos vazados, carlingas e vinco na proa e popa. Com propulsão à remo e vela, a canoa baiana era utilizada na atividade pesqueira. A madeira da embarcação foi identificada como Schizolobium parahybae (Fabaceae) e apresenta camadas de crescimento distintas, demarcadas pelo achatamento radial das fibras e maior espessamento de suas paredes no lenho tardio e pelo parênquima em faixa marginal. Além disso, os poros possuem porosidade difusa, sem arranjo definido, solitários em maioria e múltiplos de 2, os raios são seriados, homogêneos, compostos por células procumbentes, a estratificação é ausente e possui inclusões minerais em forma de cristais prismáticos em células do raio. O uso da madeira de garapuvú tem sido registrado na carpintaria naval da costa brasileira em diferentes regiões, indicando o uso seletivo desta espécie em função de suas propriedades e características, revelando o conhecimento das comunidades pesqueiras da costa baiana sobre os recursos florestais da Mata Atlântica em suas práticas culturais.

Apoio / Parcerias: FAPESC CNPq

ISSN: 1808-1665