Os distúrbios gestacionais hipertensivos são bem conhecidos por causar parto prematuro, aborto e morbimortalidade materna. Como protagonista durante a gestação, a placenta é diretamente responsável por modular a fisiologia local e sistêmica e o comportamento celular durante a remodelação vascular, comunicando-se por meio da liberação de vesículas extracelulares, principalmente exossomos. Estes liberados na circulação materna têm a capacidade de se espalhar local e sistemicamente e modular a função celular durante a gestação normal e hipertensiva. Tais fatores elevam seu potencial como biomarcadores precoces de risco gestacional, justificando a relevância do presente estudo, que teve por objetivo isolar e caracterizar as microvesículas extracelulares (presentes no plasma sanguíneo materno) de pacientes que passavam por gestações com e sem hipertensão. Trata-se de um estudo transversal (CEP 3.276.544/2019), para descrever as características de vesículas extracelulares de origem placentária presentes no sangue materno periférico, realizada no período de julho a dezembro de 2019, no ambulatório de alto risco e centro obstétrico de uma maternidade pública de SC. Os dados compreendem informações autorrelatadas em entrevista, dados do prontuário e coleta de sangue. Foram coletadas duas amostras de sangue periférico de cada gestante, preparado o plasma, isoladas com kit específico. As amostras foram avaliadas por microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia Raman. Avaliado plasma sanguíneo de 35 gestantes (20 controles e 15 hipertensas). A análise de microscopia eletrônica de varredura mostrou que as amostras de plasma apresentavam vesículas extracelulares (exossomos) de 50-150nm, não contendo vesículas grandes e corpos apoptóticos (> 180nm). A espectroscopia Raman mostrou diferenças na análise de componentes principais (PCA) para as gestantes hipertensas, com 62% de variações no componente principal 1, havendo aumento de metionina e triptofano e níveis menores de tirosina, arginina e leucina em relação às gestantes controles. Além disso, encontrou-se aumento nas moléculas da estrutura do DNA, de ácido mirístico, amida I e amida II, carotenoides e fosfolipídios nos exossomos. Os níveis mais elevados de fosfolipídios e compostos estruturais de RNA apontam que o enriquecimento do plasma com exossomos pode fornecer uma melhor visualização da carga do exossomo ao início da gestação, com possibilidade de constituir novos biomarcadores para distúrbios gestacionais hipertensivos. O uso de plasma enriquecido com exossomos como fonte de biomarcadores de gestação pode fornecer uma visão precoce da comunicação placentária na interface materno-fetal, com potencial para se tornar uma ferramenta poderosa para diagnóstico diferencial e prognóstico do final da gravidez.